9. O FUTURO DO LIVRO
Ontem (16/10), tive o
prazer de apresentar os meu livros no espaço cultural da FNAC de Cascais: O Contador de Estórias e O
Escultor de Almas. Presentes muitos amigos, assim como autores que editei
em tempos, um encontro que muito me agradou. Quero aqui agradecer a todos os
que me honraram com a sua presença, e à FNAC pela oportunidade desse
evento.
Após a apresentação da nova editora (a 4Estações)
e do autor pela sua diretora, Ione França, coube a mim fazer uma pequena
intervenção sobre o que me levou a escrever e a editar estes títulos, já com
noventa anos, e não antes, no decorrer da minha vida editorial de seis décadas.
Curiosamente, enquanto o fazia, surgiu-me uma
pergunta tola: e se fossem livros digitais, como seria o lançamento? Julgo que
não haveria! Ou os leitores sentavam frente a um ecrã gigantesco? Ou todos em
volta de um iPad?
Os lançamentos de
livros já tiveram em Portugal a sua
força comercial e promocional. Comercialmente, hoje para as pequenas tiragens,
as pequenas vendas que proporcionam podem significar algo. Mas para grandes
tiragens (em Portugal isso significa mais de três mil exemplares), mesmo a
extraordinária venda de duzentos exemplares não é importante. Têm algum valor
promocional, mas já lá vai o tempo em que os jornais e as rádios divulgavam razoavelmente
bem todos os lançamentos. Hoje são tantos que os jornais já não consideram como
notícia, a menos que seja de um figurão, como é típico desta cultura de
subserviência portuguesa.
Contudo, estas
sessões de autógrafos são ainda uma gostosa festa de amigos, uma oportunidade
para os leitores fiéis conhecerem o seu ‘adorado’ autor, e aproveitarem para
lhe pedirem um autógrafo e trocarem umas palavrinhas.
É curioso como em
mercados livreiros muitíssimo mais pujantes do que o nosso, como por exemplo o
da Inglaterra e dos Estados Unidos, as apresentações pessoais ao público pelos
autores sejam tão frequentes, apesar da gigantesca força da televisão. E como é
sabido nos Estados Unidos, por pressão dos editores e até contratualmente, os
autores prestam-se às célebres ‘leituras’, em livrarias e clubes de leitura,
frequentes e cansativas.
Eu, que anteriormente
como editor tantas vezes apresentei os meus autores na FNAC e em outras
livrarias e espaços, fiquei feliz por o ter feito agora das minhas próprias
obras, principalmente pela oportunidade de esclarecer alguns pontos da minha
serôdia trajetória de escritor.
Voltando aos livros
de edição apenas digital. Sabemos que muitos, apesar de algum sucesso neste
suporte, não o ultrapassam, nunca são editados em papel. Que outros, pelo seu
sucesso nesse mesmo suporte, ganharam a edição como livros em papel, para venda
no mercado livreiro. Também sabemos que muitos arautos do futuro bramam que o
livro de papel não tem qualquer hipótese
em anos vindouros. Ouvimos até de um dos escritores que mais vende no mundo,
Paulo Coelho, 150 milhões de livros em
papel, e não sei quantos digitais, falar
na última Feira de Frankfurt que editores e livreiros não se atualizaram aos
novos tempos do livro.
Com a minha idade, e
se isso acontecer mesmo rápido, isso não me preocupa nem me assusta. No
decorrer da minha vida ouvi que o cinema iria matar o teatro, também que a
televisão eliminaria a rádio e o cinema, que a fotografia tiraria todo o
sentido à pintura, e por aí fora. De facto, a fotografia tem hoje status de uma
apreciada arte e as exposições fotográficas vêm ombreando com as de pintura.
Mas levou um século. A televisão usa o cinema e
fortalece a produção de filmes, pois precisa deles. O teatro não terá o
fascínio dos áureos tempos de Shakspeare, mas está vivo, muito vivo, em todo o
mundo, nos países ricos e nos mais pobres, nos de boa estrutura de teatros,
como nos de menos, como Portugal. Os bons livros são adaptados para o teatro,
para o cinema e para a televisão.
Na realidade o que me
assusta não é os jovens lerem apenas e-books
nos seus computadores, iPads, iPhones,
etc. O que me pasma e entristece são os que têm um peixinho num aquário
virtual, que têm de alimentá-lo virtualmente e, não o fazendo, o peixinho
morre. O que me preocupa, e muito, é esses jovens buscarem as namoradas nas
redes sociais. Dispensam o perfume, o
acarinhar de uma pele suave, o magnetismo, os modos, o sorriso e a
lágrima de uma jovem de carne e osso.
Lembro de, há mais de vinte e cinco anos, ver um belo,
muito belo, filme (Barbarela) com
Jane Fonda. Ela interpretava, neste filme, com o charme privilégio dos Fonda e
a exuberância e beleza de Jane. O tema era o amor num futuro próximo, em que
‘fazer amor’ consistia em encostar a palma da mão na palma do parceiro, com
direito a orgasmo mútuo, imediato e pleno. Assustei-me muito, temi que esse
futuro acontecesse rápido. Felizmente nunca vi sinais da sua chegada.
É por isso que não
acredito no desaparecimento do livro em papel, com o seu caraterístico cheiro,
seu toque gostoso, sua presença sólida, como quando pegava num livro de Emílio
Salgari ou de Júlio Verne, quando tinha os meus dez anos.
Tenho fé de ainda
assistir a muitos, muitos mesmo, lançamentos e de lá sair com algum ou alguns
dos assistentes para beber ou comer algo.
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