DeMoura



DeMoura é o nome literário de Mário Mendes de Moura, editor durante sessenta anos no Brasil ( Fundo de Cultura, Páginas, Vértice, etc.), em Espanha ( PluralSingular) e Portugal ( Pergaminho, Arte Plural, Bico de Pena e Vogais & Companhia). Em 2014 lança a sua mais recente editora, a 4 Estações.
A partir de 2013 dedica-se à escrita. "O Contador de Estórias" e o "Escultor de Almas", são os primeiros títulos publicados na coleção Estação Primavera e na 4 Estações Editora.

sábado, 27 de setembro de 2014

DeMoura, a outra face do editor.

1.     DeMoura, A OUTRA FACE DO EDITOR

   Hoje, 24 de setembro de 2014, chegaram às livrarias dois títulos novos: O Contador de Estórias (um livro de contos) e O Escultor de Almas (um romance). Autor: um desconhecido, um tal DeMoura. Editora: “4Estações.”
  DeMoura é o pseudónimo literário sob o qual eu resolvi publicar os livros que escrevi no último ano. Na verdade, escrevi ainda mais um outro livro de contos (O Homem que perdeu a Sombra) e mais um  romance, aliás o primeiro (O Roxo dos Jacarandás). Todos os quatro em edições digitais, de 50 exemplares, para oferta a familiares e amigos.
   O meu nome é Mário Mendes de Moura e já houve em tempos um outro livro publicado com o meu nome, mas esse há apenas… sessenta anos. Imaginem! Não era literatura, mas um livro apologético do campismo desportivo, tendo batalhado bastante para a sua introdução em Portugal, publicado na então prestigiada Biblioteca Cosmos, sob o título de O Campismo na Vida Moderna, o que muito me envaideceu, rapaz que era com vinte e um anos.
  Escrevi muitos outros livros, em geral obras práticas ou de referência, que saíam com pseudónimos diversos, pelas editoras que outrora dirigi, tais como a Pergaminho, a ArtePlural, a GestãoPlus, a Bico de Pena e a Vogais & Companhia. Sim, era editor, isto é, fui editor por sessenta anos, e é natural que alguns dos leitores deste despretensioso blog conheçam o meu nome, ou pessoa, já que exerci essa atividade em Portugal nos últimos vinte anos. Anteriormente foi no Brasil, por quase quarenta anos.
  Desta forma, acho que devo uma explicação: porque pulei de editor para escritor? Mais estranho, ainda, porquê aos noventa anos? Um esclarecimento que julgo dever aos meus possíveis leitores e leitoras, e, principalmente, a mim mesmo.   É isso  o que tentarei conseguir.
  A verdade é que sempre gostei de contar ‘estórias’ (escrevo estórias e não histórias, pois as minhas são totalmente inventadas e não relatam acontecimentos do quotidiano ou do passado meu ou de outros e, portanto, parece-me que não são histórias).
   Em garoto, bem garoto, talvez com uns dez anos, contava habitualmente aos meus irmãos  (dois dos quais mais velhos) estórias, na hora de adormecer. Dormíamos em quatro camas, em dois quartos, separados por uma porta aberta entre eles, como era habitual nas moradias antigas, e eles cobravam-me a estória. Era um ritual.
  Também com essa idade escrevia pequenos contos que enviava para a revista infantil O Senhor Doutor, que publicou alguns deles e ainda me outorgou prémios. Qualquer dia mais folgado, irei à procura desta prosa na Hemeroteca, para me divertir bastante.
   Enquanto adulto, imaginei, regularmente, muitos contos, romances, guiões cinematográficos, que não passaram de apontamentos, que foram sumindo porque nunca encontrei razão nem vontade de os desenvolver, pois a minha vida profissional e social sempre foi muito intensa. Guardar esses esboços teria seria difícil, tendo eu vivido em tantos países e cidades, habitado tantas casas, por maior ou menor tempo, confortáveis ou espartanas. Situações tão diversas que me impossibilitaram de guardar coisas de pouco interesse prático. Infelizmente, até mesmo fotografias e cartas íntimas ficaram pelos cantos do mundo e, certamente, algumas gostaria de reler ou rever agora. Mas sumiram na poeira do tempo.
  Para mim o importante era simplesmente imaginar as tais estórias, curtir as personagens, os diálogos e a ação. Isso preenchia bem as minhas insónias e aborrecimentos. Com sinceridade não me interessava minimamente partilhar com outros, pois isso significava escrever, sacrificar o tempo para as minhas leitura e filmes, viagens e amizades. Ver no papel, em livros ou revistas, essas fugazes e possivelmente medíocres criações não era o meu sonho. Tão pouco, ser conhecido como escritor.
  Por incrível que pareça, ser escritor nunca foi um dos meus sonhos juvenis sobre o meu futuro, apesar de ser um leitor voraz e de ler bons autores. Pianista, músico, compositor, realizador de filmes ou, ainda, alpinista ou globe-trotter,  isso sim,  ambicionava com entusiasmo.
  Afinal os caminhos foram muito diferentes dessas minhas aspirações. Cursei Silvicultura, certamente em razão da minha forte paixão pelas árvores e pela natureza. Um erro colossal! Mas como saber a minha real vocação e predicados? Ninguém,  então,  nos orientava cientificamente e nós, e nossos pais, dispúnhamos de muito pouca informação para acertar.
  Esse erro e a minha militância antissalazarista levaram-me para o único caminho possível: emigrar. Sim, emigrei, comi as papas do Diabo na Venezuela e no Canadá, e também, de início, no Brasil. Finalmente este país proporcionou-me melhores oportunidades. O certo é que nesse, então, maravilhoso país, eu, com apenas 29 anos, criei uma editora de livros, do zero, zero absoluto, com dois sócios que, como eu, nada entendiam da parte editorial (um médico e o outro gráfico).
  Durante dois anos, ocupei-me não só da parte editorial como da comercial, aprendi muito de artes gráficas com o meu sócio gráfico, aprendi muito das outras vertentes no próprio mercado, que palmilhei com muito esforço e com atenção e curiosidade. Bom, mais tarde, aqui neste blog, penso voltar à minha trajetória editorial.
  Importa apenas dizer, agora, que de 1953 até 2010 sempre fui proprietário, único ou sócio, de diversas editoras, e de que a direção editorial delas sempre foi exclusivamente minha. Dessas editoras vivi, melhor ou pior, criei os meus quatro filhos, bebi o meu uísque e viajei muito. E fui muito feliz, pois nunca duvidei que, para mim, uma editora é o melhor negócio do mundo, desde que amemos a atividade e tenhamos bastante criatividade e muita, mesmo muita, paciência e fair play.


                                                              ***

1 comentário:

  1. Meu amigo, mais que criatividade e fair play , sempre teve de sobra talento (muito) e dedicação .

    ResponderEliminar